sábado, 6 de outubro de 2012

A cultura fora dos grandes eixos


No último final de semana, numa pracinha, como em toda e qualquer cidade do interior, quem chegava e sentava para apreciar a paisagem, tomar um sorvete e deixar as crianças brincarem a vontade, se deparava com música boa e num volume agradável.
Violas, violões, bandolins e cavaquinhos, gente cantarolando. Era a festa de encerramento do Festival de Música Cordas na Mantiqueira.
- Pra que sofisticar se são essas coisas simples que nos fazem sentir bem?
Essa foi a sensação descrita por várias pessoas que estiveram neste último final de semana em São Francisco Xavier, interior de São Paulo. O lugar é valorizado por aqueles que ainda acreditam no valor das coisas simples e autênticas, vive de turismo e investe fortemente na área cultural. Durante o ano, são vários momentos em que este vilarejo chama amantes de arte e cultura.  É lá que acontece o badalado Festival da Mantiqueira Diálogos com a Literatura e também há nove anos, o Festival de Música Cordas na Mantiqueira. Quando se nota quem já passou por ele até assusta: Guinga, Toninho Horta, Ulisses Rocha, Paulo Bellinati e tantos talentosos instrumentistas internacionalmente reconhecidos da atual música brasileira e você nem tinha ouvido falar?
O festival não atrai multidões, nem estraga o sossego de quem quer tirar um “relax” no final de semana. Ele é apenas uma grata surpresa para os apreciadores de música que visitam a cidade no mês de setembro.  “O festival apresenta o novo e o velho, o moderno e o tradicional, o destaque é para os instrumentistas de cordas, muitas vezes são músicos desconhecidos do grande público, aliás, acho que a maioria, mas que mostram o que acontece de melhor na música instrumental brasileira hoje com certeza.”, conta Patricia Ioco uma das organizadoras do Cordas.
 “Faço questão de participar de iniciativas como a do Photozofia, o Brasil é grande demais pra concentrar cultura de qualidade só nos grandes centros, vocês não podem desistir.”, disse Ulisses Rocha quando participou do festival em 2011, ciente das dificuldades em manter iniciativas como essa longe das capitais.
“Todo ano é uma batalha, não é música para multidões e nem queremos isso, mas talvez seja essa a justificativa mais escutada quando buscamos um patrocinador.” , explica Sandro que tem o projeto aprovado na Lei Rouanet desde 2011. “Desde 2000 trazemos shows de qualidade que estão fora do circuito comercial, queremos mostrar coisa boa para quem aprecia e incentivar outros a conhecerem o novo, tem muita produção excelente escondida por ai.”
Sem disputar ingressos de valores exorbitantes (R$ 25,00) ou ainda gratuitos como são os shows de encerramento na praça em parceria com a FCCR e a Biblioteca Solidária, o festival consegue evidenciar o que o país tem de vanguarda em relação a musica brasileira. Na edição atual, por exemplo, apresentaram-se grupos como Bandolim Elétrico, Vitor Garbelotto (vencedor do APCA) e também Fabio Gouvea Quarteto, que grava o seu próximo disco no berço do jazz no final do ano e aproveitou o público do festival para testar o repertório. “A gente grava nosso próximo cd em dezembro em Nova Iorque, nossos ensaios tem sido intensos e o festival de cordas foi a chance ideal para ver se estamos no caminho certo, a última vez que me apresentei nele com o Trio Curupira dividimos uma noite memorável com a violonista Badi Assad, é um prazer voltar a tocar nele. (O Trio Curupira concorreu ao Grammy em 2010).
O festival convida a cada dia dois artistas para dividirem a noite e, depois, fazem uma “Jam session” de improviso. Na edição de 2012 uma das mais emocionantes foi a do violinista Ricardo Herz com o pianista/acordeonista Guilherme Ribeiro.
Desde a edição passada, o Cordas na Mantiqueira realiza shows gratuitos na praça, esse ano, na noite de sábado convidou o Clube do Choro Pixinguinha da Fundação Cultural Cassiano Ricardo, Gustavo Carvalho e Elder Costa Power Trio e mais tarde se apresentava num palco mais intimista o guitarrista e multi-instrumentista Arismar do Espírito Santo com a convidada Léa Freire.
O show de encerramento foi uma homenagem à cultura caipira. Claudio Lacerda (cantor e violonista) fez um repertório em homenagem à essa cultura e contou com a participação especial de um dos incentivadores da valorização da viola caipira Braz da Viola. O professor e maestro subiu ao palco com 26 violeiros de São Francisco Xavier de várias idades, apresentando composições que iam de Zeca Baleiro à Tonico e Tinoco e emocionaram o público.
Que muitas iniciativas culturais duradouras em busca de uma construção cidadã se fortifiquem país afora, que em todos setembro soem as cordas na Mantiqueira...







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